segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Na estrada - dias 6 & 7

De São Thomé a Tiradentes passamos por Três Corações, Lavras e São João del Rey.
Logo saindo de São Thomé, paramos na estrada para esperar uma pequena tropa de gado passar, que vinha sendo conduzida por 2 tropeiros. Gente simples que andava descalça no estribo. Acho até que aqueles pés não se adaptariam ao uso de calçados...

Paramos em São João del Rey para fazer um lanchinho e esperar a chuva passar. Sim chuva de novo... Está chovendo à tarde quase que diariamente.
O lugar que paramos servia um pão de queijo recheado... Diliça!!!
Em Tiradentes nos hospedamos na pousada "Portal", e ficamos 2 dias na cidade.
Chegamos à tardinha, bem à tempo de fugir da chuva de granizo, e só deu tempo de jantar e cair na cama. Mas no jantar provamos uma costelinha de porco com ora pro nobis e angu.

A tal ora pro nobis é uma folha semelhante à couve, muito comum na região, e presente em quase todos os restaurantes. Para registro, a Carla não gostou, disse que a folha "solta uma baba" e não tem nada a ver com couve.

No dia seguinte descemos a rua até a estação de trem, onde conhecemos o Sr. Léo, um charreteiro que leva o povo nos pontos turísticos e conta todas as histórias com eles relacionadas.Inclusive nos contou que Tiradentes não nasceu em Tiradentes, e não morreu em Tiradentes, mas sim nasceu em uma fazenda próxima da cidade, e foi enforcado no Rio de Janeiro, depois de ser preso em Ouro Preto. Existe uma suposição de que ele haveria residido na cidade entre os 9 e os 15 anos, quando, após perder os pais, teria ele residido na casa do padre Toledo. Após abandonar o posto de alferes no exército do império, ele retornou à cidade, e a casa do padre Toledo abrigou várias reuniões da inconfidência.

O Sr. Léo "pilota" uma charrete muito bem cuidada, tracionada pelo "Falcão", um cavalo de meia idade que fica nervoso por andar de vagar e morde a charrete. Quando comentamos do blog o Sr, Léo insistiu para publicarmos sobre aquilo que faltava à cidade, tais como a cadeia da cidade. Esta cadeia é um prédio histórico localizada à frente da igreja dos negros, e está fechada a seis meses para restauração, e ainda não fizeram nada.

Por falar na igreja dos negros, ela é uma das menores e todo o ouro usado no altar, cerca de 12Kg, foi carregado pelos negros escondido nas unhas, dentes e cabelo, e a construção da igreja ocorreu durante a noite, que era o período de "folga" dos escravos.

Tem a igreja dos mulatos, que na época eram mais discriminados do que os negros, e ainda a igreja dos brancos, a matriz da cidade.

Esta igreja tem quase meia tonelada de ouro no altar, e um órgão que foi fabricado na França, trazido ao porto de Paraty, desmontado, carregado até Tiradentes em lombo de mula pela Estrada Real, remontado e instalado na matriz. Semanalmente um músico executa nele obras barrocas para deleite dos visitantes.

Nestas igrejas o piso é sempre de largas tábuas, e abaixo dele o espaço era usado para sepultar pessoas importantes, ou que tenham doado bastante dinheiro à igreja, através da prática conhecida como "perdão das indulgências". Todos os outros coitados eram jogados no rio. O rio das mortes.À tarde fizemos o passeio de trem até São João del Rey, e lá visitamos outras igrejas, o solar da família de Tancredo Neves...uma rua onde a parede das casas são todas fora do prumo...

um cemitério coberto...a fábrica das famosas "namoradeiras" (bonecas que enfeitam as janelas), e uma fábrica de artefatos em estanho, além do museu do trem, que fica na própria estação, tudo isso através dos serviços de guia e city tour do Sr. Joel, que também ia descrevendo e contando tudo sobre cada canto, prédio e rua por que passávamos.

Notamos uma certa "rixa" entre as cidades de Tiradentes e São João del Rey, cada guia valorizando sua cidade e fazendo comentários "espinhosos" sobre a cidade vizinha.
Tiradentes é uma cidade bem mais cuidada e preparada para o turismo. Não tem nenhum prédio, o calçamento original é preservado na área central, e todo o casario é preservado, mesmo sendo ocupado e usado por pousadas, restaurantes, lojas e residências. Ao passo que São João del Rey é uma cidade maior e que já engoliu seu lado histórico, preservado apenas em alguns pontos.
Tivemos muita dificuldade para acesso à internet, apesar de Tiradentes oferecer conexão wireless pública em três pontos da cidade, e "tomadas em árvores".
Hoje cedo passamos pela praça novamente para comprar algumas coisas, e seguimos rumo à Ouro Preto, onde chegamos por volta das 16h, passando por Barroso, Barbacena e Ouro Branco. Na praça central, que leva o nome de Tiradentes, encontramos o Emerson, um jovem que se apresentou como "agenciador de pousadas" e estudante de turismo (mostrou carteirinha e tudo!). Ele nos levou até a pousada Ouro Preto, onde fomos recepcionados pelo "Sozé" e nos instalamos. Deixamos agendado com o Emerson um city tour para amanhã cedo.

Vamos procurar um local para jantar e amanhã contamos do passeio.

Até o próximo!

5 comentários:

DOCE.ALGODAO disse...

O interessante não é apenas a aventura, mas a história por vcs relatada...
Muito bom!!!!!!!!

Anônimo disse...

Fotos lindas...
Adorei!
Heidi

Wladmir disse...

Carla e Pierre, vendo esses locais, estou me lembrando quando visitei Sao Thome das Letras, local mistico e fantastico, teremos muitos comentarios para fazer, hj aqui dia de sol, mas temos tido muita chuva, aproveitem bastante a viagem, Wlad, Claudia, Miguel e Larissa

Cagiva Elefant 900 disse...

Obrigado a todos pela visita e comentários. Espero que o blog possa estar despertando em vocês o espírito aventureiro e a vontade de cair na estrada.

Adriana Vilela disse...

Ai que delícia de post!!! Amo história e as fotos de vcs estão LINDAS!!!
Adoro sua Narrativa, dá um beijão na Carla, viu??
Tá faltando fotinha de pãozim di queijim, uai, rssss
Ahhhhhhhhhhh, vá atá Lavras Novas, fica pertinho de Ouro Preto, não sei se uns 30km, é uma vilarejo rústico mas MUITO Gostoso!!!!
Abs,

Adri