De São Thomé a Tiradentes passamos por Três Corações, Lavras e São João del Rey.
Logo saindo de São Thomé, paramos na estrada para esperar uma pequena tropa de gado passar, que vinha sendo conduzida por 2 tropeiros. Gente simples que andava descalça no estribo. Acho até que aqueles pés não se adaptariam ao uso de calçados...

Paramos em São João del Rey para fazer um lanchinho e esperar a chuva passar. Sim chuva de novo... Está chovendo à tarde quase que diariamente.
O lugar que paramos servia um pão de queijo recheado... Diliça!!!
Em Tiradentes nos hospedamos na pousada "Portal", e ficamos 2 dias na cidade.
Chegamos à tardinha, bem à tempo de fugir da chuva de granizo, e só deu tempo de jantar e cair na cama. Mas no jantar provamos uma costelinha de porco com ora pro nobis e angu.

A tal ora pro nobis é uma folha semelhante à couve, muito comum na região, e presente em quase todos os restaurantes. Para registro, a Carla não gostou, disse que a folha "solta uma baba" e não tem nada a ver com couve.

No dia seguinte descemos a rua até a estação de trem, onde conhecemos o Sr. Léo, um charreteiro que leva o povo nos pontos turísticos e conta todas as histórias com eles relacionadas.

Inclusive nos contou que Tiradentes não nasceu em Tiradentes, e não morreu em Tiradentes, mas sim nasceu em uma fazenda próxima da cidade, e foi enforcado no Rio de Janeiro, depois de ser preso em Ouro Preto. Existe uma suposição de que ele haveria residido na cidade entre os 9 e os 15 anos, quando, após perder os pais, teria ele residido na casa do padre Toledo. Após abandonar o posto de alferes no exército do império, ele retornou à cidade, e a casa do padre Toledo abrigou várias reuniões da inconfidência.

O Sr. Léo "pilota" uma charrete muito bem cuidada, tracionada pelo "Falcão", um cavalo de meia idade que fica nervoso por andar de vagar e morde a charrete. Quando comentamos do blog o Sr, Léo insistiu para publicarmos sobre aquilo que faltava à cidade, tais como a cadeia da cidade. Esta cadeia é um prédio histórico localizada à frente da igreja dos negros, e está fechada a seis meses para restauração, e ainda não fizeram nada.

Por falar na igreja dos negros, ela é uma das menores e todo o ouro usado no altar, cerca de 12Kg, foi carregado pelos negros escondido nas unhas, dentes e cabelo, e a construção da igreja ocorreu durante a noite, que era o período de "folga" dos escravos.

Tem a igreja dos mulatos, que na época eram mais discriminados do que os negros, e ainda a igreja dos brancos, a matriz da cidade.

Esta igreja tem quase meia tonelada de ouro no altar, e um órgão que foi fabricado na França, trazido ao porto de Paraty, desmontado, carregado até Tiradentes em lombo de mula pela Estrada Real, remontado e instalado na matriz. Semanalmente um músico executa nele obras barrocas para deleite dos visitantes.

Nestas igrejas o piso é sempre de largas tábuas, e abaixo dele o espaço era usado para sepultar pessoas importantes, ou que tenham doado bastante dinheiro à igreja, através da prática conhecida como "perdão das indulgências". Todos os outros coitados eram jogados no rio. O rio das mortes.

À tarde fizemos o passeio de trem até São João del Rey, e lá visitamos outras igrejas, o solar da família de Tancredo Neves...

uma rua onde a parede das casas são todas fora do prumo...

um cemitério coberto...

a fábrica das famosas "namoradeiras" (bonecas que enfeitam as janelas), e uma fábrica de artefatos em estanho, além do museu do trem, que fica na própria estação, tudo isso através dos serviços de guia e city tour do Sr. Joel, que também ia descrevendo e contando tudo sobre cada canto, prédio e rua por que passávamos.

Notamos uma certa "rixa" entre as cidades de Tiradentes e São João del Rey, cada guia valorizando sua cidade e fazendo comentários "espinhosos" sobre a cidade vizinha.
Tiradentes é uma cidade bem mais cuidada e preparada para o turismo. Não tem nenhum prédio, o calçamento original é preservado na área central, e todo o casario é preservado, mesmo sendo ocupado e usado por pousadas, restaurantes, lojas e residências. Ao passo que São João del Rey é uma cidade maior e que já engoliu seu lado histórico, preservado apenas em alguns pontos.
Tivemos muita dificuldade para acesso à internet, apesar de Tiradentes oferecer conexão wireless pública em três pontos da cidade, e "tomadas em árvores".
Hoje cedo passamos pela praça novamente para comprar algumas coisas, e seguimos rumo à Ouro Preto, onde chegamos por volta das 16h, passando por Barroso, Barbacena e Ouro Branco. Na praça central, que leva o nome de Tiradentes, encontramos o Emerson, um jovem que se apresentou como "agenciador de pousadas" e estudante de turismo (mostrou carteirinha e tudo!). Ele nos levou até a pousada Ouro Preto, onde fomos recepcionados pelo "Sozé" e nos instalamos. Deixamos agendado com o Emerson um city tour para amanhã cedo.
Vamos procurar um local para jantar e amanhã contamos do passeio.
Até o próximo!