A etapa de ontem foi histórica no Dakar.
Os pilotos vinham da etapa 07, na qual Barreda caiu e quebrou o guidão.
Saíram do nível do mar e subiram a 3.658m de altitude para encarar um acampamento sem assistência, pois a etapa era marathon.
Dá pra piorar?
É claro!
Adicione chuva e frio.
Choveu quase toda a noite, pela manhã a temperatura era de -2° e havia nevoeiro.
Joan Barreda já vinha muito indignado com a organização, sobre a qual depositou a culpa pelo tombo que levou.
Explico.
Sempre que o trajeto atravessa alguma zono povoada a velocidade máxima permitida é limitada a 100, 80 ou 60Km/h, dependendo da situação. Isso é indicado no roadbook.
O roadbook também sinaliza perigos. Um buraco ou depressão é sinalizado com pontos de exclamação. Um, dois ou três pontos, dependendo do nível de risco, ou seja, do tamanho do buraco.
Este ai acima sinaliza perigos nível 2 e 3.
Lembram que os carros já tinham passado por estes caminhos no dia anterior, e com chuva.
Pois Barreda e Coma estavam saindo juntos da área de velocidade controlada.
Hora de fazer o que?
Acelerar!
O roadbook sinalizava perigo à frente com 1 ponto de exclamação.
Para os pilotos de ponta uma exclamação e nada é a mesma coisa. Passam com o cabo todo enroscado.
Acontece que o risco era um antes dos carros passarem...
Barreda disse que deveriam ter alterado para 2 ou 3.
Deu no que deu...
Falando mais um pouco da etapa 8...
Algumas pessoas têm um histórico de postura desportista que nos permite antever uma atitude.
A cena é a seguinte:
2 pilotos numa reta, o de trá vinha a uns 25m no meio da poeira.
O da frente vê um cachorro na pista e desvia pela esquerda, olha pra trás e levanta o braço, sinalizando para quem vem atrás o perigo.
Quem é o da frente e quem é o de trás?
Casteu e Esquierre, que largaram em 8° e 9° e a esta altura estavam disputando posição.
Vocês lembram de Casteu não é?
Fiquem ligados que tem mais...
Eis que amanhece o dia e se aproxima a saída para a 9ª etapa.
Como falei antes, muito frio, nevoeiro e chuva.
A organização já havia reduzido 368 dos 782km originais desta etapa.
Houve um "princípio de motim", se é que se pode dizer isso.
Os pilotos reclamavam muito e tentavam convencer a organização a cancelar esta etapa.
Laia dizia "Não temos roupa! Estamos congelados!"
Etienne Lavigne dizia "Não te preocupes, não há neve, não há nada (no trajeto), não está chovendo, está como aqui (nublado)."
Paulo Gonçalvez dizia "Eles (ASO) querem fazer o show. Já venderam. Mas não somos cachorros que o dono manda e ele faz. Correr assim é matar-se."
Barreda reafirmava "Assim não se pode partir. Arriscamos a vida! É incrível! Não podemos correr assim."
Coma propôs "Saímos, andamos 5km e voltamos todos."
Vários pilotos estavam usando sacos plásticos, desses de lixo, por cima das roupas para tentar amenizar o frio.
É muito comum um piloto que tenha se sentido prejudicado de alguma forma pressionar a organização, mas neste caso, que seguramente vai para a história, a voz de protesto era unânime.
Depois de muita discussão acabaram largando. Em linha de 30 para alcançar velocidades acima de 140km/h neste mar de sal.
O Salar é um deserto plano onde a areia foi substituída pelo sal.
Acontece que andar num lugar desses quando está molhado gera terríveis problemas nas motos.
Superaquecem, pois o sal fecha os radiadores e apresentam diversos problemas elétricos.
Joan Pedrero disse que parou logo depois de atravessar o salar porque sentia muito frio e não conseguia frear.
Haviam 4 pontos de reabastecimento e as motos devem abastecer com o motor desligado.
No primeiro ponto, após os primeiros 100km de sal, após abastecidas as motos não ligavam mais.
Coma argumentava com Etienne "Cancele a etapa. Não tem nenhuma moto funcionando!"
Coma estava visivelmente muito irritado.
Que fez a moto dele funcionar foram Jordi Villadoms e Dadid Casteu (de novo).
Enfim, largaram 110 e chegaram 82.
Um dos abandonos foi de Gerard Farres foi resgatado com sintomas de hipotermia (ele e outros 46 com os mesmos sintomas), mas já passa bem.
Quintanilla chegou na frente seguido por Joan Pedrero e Svitko. Laia chegou em 5°, Coma em 9°, Casteu em 11°, Jeand de Azevedo em 51° e Barreda em 80° rebocado por Esquerre desde a primeira parada para reabastecimento.
A Honda de Barreda é única. Preparada pela fábrica especialmente para esta competição, leva muita tecnologia de MotoGP e muita eletrônica embarcada. Um comentarisata espanhol disse que a eletrônica embarcada tem vantagens enormes sobre os sistemas convencionais, mas quando dá problema o que se precisa não é de um mecânico mas de um engenheiro. Eu adiciono que além do engenheiro é necessário computadores, scaners, sensores, etc. Por este motivo alguns pilotos ainda optam por motos carburadas neste tipo de competição.
Ainda resta comentar a etapa de ontem, mas vou ficando por aqui.
Seguimos acompanhando.
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